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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Jornal O Público, de Portugal, divulga alerta da Abrasco



A contra-reforma sanitária, ou o neoliberalismo como patologia

A inversão de rumo nos últimos anos ameaça levar o Brasil de volta à situação de há três décadas.
--- Artigo do Professor Catedrático de Sociologia da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, João Arriscado Nunes, que está sendo publicado hoje.



Um dos líderes históricos da Reforma Sanitária Brasileira e do processo de democratização do Brasil, Sérgio Arouca, pautava o seu pensamento e a sua ação pela ideia da estreita ligação entre a realização do direito à saúde e a luta pela democracia. A Constituição Federal de 1988 determinou que a saúde era um direito de todos e um dever do Estado. Um dos aspetos em jogo hoje, na eleição em curso no Brasil, é a resistência às tentativas de desmantelar os meios para a realização desse direito e desse dever.
A situação da saúde no Brasil foi analisada e discutida no passado mês de julho por mais de 7000 profissionais, investigadores, estudantes e ativistas no domínio da saúde, que participaram no Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), no Rio de Janeiro. A ABRASCO, assim como outras organizações e instituições no campo da saúde, nunca deixou de alertar para as graves consequências de medidas que afetam o financiamento público do sistema de saúde, mas também comprometem os avanços conseguidos nas políticas públicas dirigidas à redução das desigualdades e ao combate à exclusão e à pobreza. Alguns desses avanços conhecem agora, pela primeira vez em 25 anos, uma inversão de tendência, como a interrupção da contínua redução da mortalidade infantil e da mortalidade materna; a redução da cobertura pelos programas de vacinação e os consequentes surtos de doenças declaradas como erradicadas; ou ainda o desinvestimento em unidades de saúde e no recrutamento de profissionais assegurando o acesso a cuidados de saúde. Tudo isto acontece num contexto de cortes em políticas públicas, especialmente naquelas que são dirigidas às populações mais vulneráveis e mais sujeitas a formas diversas de violência, incluindo a violência estrutural associada à desigualdade e à exclusão. A Proposta de Emenda Constitucional 95, também chamada PEC do Teto dos Gastos, aprovada em 2016, ao congelar o investimento público por 20 anos, tornou-se um dos instrumentos centrais de desmantelamento das políticas públicas.
A saúde, a educação e as políticas socias dirigidas aos setores mais vulneráveis da população foram especialmente atingidas, contrastando, por exemplo, com o tratamento conferido aos membros do poder judiciário, contemplados com significativos aumentos das suas remunerações.
Este diagnóstico é corroborado por um artigo publicado no início deste mês, na secção de Correspondência da revista The Lancet, uma das mais importantes e prestigiadas publicações internacionais no domínio da medicina e da saúde pública. Os autores – K. Doniec, R. Dall’Alba e L. King – não hesitam em descrever o curso que estão a seguir as políticas públicas e, em particular, as políticas de saúde adotadas pelo atual governo do Brasil, como uma catástrofe em construção, que mostra de maneira exemplar as consequências das políticas neoliberais, centradas na austeridade, na desregulação e na privatização.

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