CALENDÁRIO

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

METÁFORA AGRÍCOLA DA RECUPERAÇÃO


REVOLVENDO O SOLO DA RECUPERAÇÃO


Marcelo Ribeiro*




Muitas pessoas acreditam – e infelizmente boa parte delas, profissionais da saúde – que a desintoxicação não passa do ato de se observar o usuário intoxicado por algumas horas no pronto-socorro, deitado numa cama, “tomando um sorinho na veia”. 



Chuvas torrenciais ininterruptas, meses a fio, para muito além da capacidade de absorção daquele terreno.  Alagamentos persistentes.  Desaparecimento da camada de húmus e da microfauna revolvedora do solo.  Certamente, esse estado de acúmulo de águas persistirá mesmo após o término das chuvas.

Aos poucos, o terreno alagado se converterá em uma gigantesca poça de lama e essa, em uma lâmina de aparência rígida, endurecida pela ação persistente e calcinante da luz solar.  Vem a craquelagem das placas: frestas úmidas vão aos poucos se desfazendo em terra e poeira as quais, com o passar do tempo, formam uma camada de terra seca, que vai puxando cada vez mais para a superfície a água que encharcou e se acumulou no solo.

Com o cair das chuvas esperadas da estação, que umidificam o solo no ritmo da natureza, os brotos de mato e gramíneas começam a enraizar timidamente no chão de terra. Logo adiante ele voltará a ser perfurado por minhocas e insetos construtores ou se converterá em berçário para larvas de todos os gêneros.  Ainda assim, em algumas situações será necessária a recuperação química e biológica desse solo, pela utilização de fertilizantes orgânicos ou de adubos minerais.

Após alguns ciclos de vida animal e vegetal, mesmo à custa de raízes filiformes, arbustos modestos e pequeníssimos insetos, novamente uma camada de húmus poderá se formar, ganhando consistência, até se converter em serrapilheira – uma camada generosa de material orgânico, em diferentes estágios de decomposição, por intermédio da qual os nutrientes finalmente voltarão a ser filtrados e retornarão ao solo de forma natural, tornando-o progressivamente mais fértil e, a cada estação, mais propício para ser revolvido e cultivado novamente.

Muitas pessoas acreditam – e infelizmente boa parte delas, profissionais da saúde – que a desintoxicação não passa do ato de se observar o usuário intoxicado por algumas horas no pronto-socorro, deitado numa cama, “tomando um sorinho na veia”.  Para eles, desintoxicar é, literalmente, deixar a “droga” sair do organismo.  Um grave equívoco. Isso é apenas e tão somente o término das “chuvas psicoativas torrenciais”. Quase a totalidade das substâncias psicoativas é eliminada do organismo em menos de vinte e quatro horas, mas os efeitos neurotóxicos e inflamatórios, bem como as neuroadaptações que o uso crônico provoca sobre o “solo cerebral e mental” não acabam com o raiar da abstinência.

A desintoxicação – apesar de não possuir um parâmetro de tempo preciso – se estende para além da ideia da mera interrupção do uso, para englobar, minimamente, um período inicial de resolução de sintomas de abstinência, no qual o cérebro começa a readaptar o seu funcionamento, sem a presença da droga.  Mesmo na ausência das síndromes de abstinência mais clássicas, como as do álcool e dos opioides, que duram em média de três a setes dias – de acordo com a gravidade da dependência – os dias que se sucedem à parada do uso, em geral, trazem a marca desse estado de amolecimento, da lama, do tédio, dos estados indiferenciados – com frequência, sintomas psiquiátricos desses primeiros tempos, de maneira isolada ou combinada, estruturam síndromes que se assemelham, mas não se comportam exatamente como os transtornos mentais classicamente descritos, são instáveis e propensas à labilidade, misturando algumas vezes mais de um tipo de transtorno, num verdadeiro mosaico psicopatológico.

Tais sintomas tendem à melhora – espontânea ou sob medicação – , conforme o estado psíquico do usuário em abstinência vai ganhando estabilidade, forma, se estruturando – são  as tais placas de barro.  Mas tudo é ainda muito frágil: há pouquíssimo espaço para se trabalhar conteúdos de natureza cognitiva ou profunda – pelo contrário, é o momento de se oferecer atividades suportivas, estruturadas em grupos motivacionais, de terapia-ocupacional, ou de mútua-ajuda.  Medicamentos auxiliam a resolução dos sintomas psiquiátricos primários ou secundários, que reduzem a vontade ou o comportamento de busca, nesse sistema nervoso emocionalmente lábil e ainda pouco capaz de articulações, e protegem o “solo cerebral”, favorecendo o processo de recuperação.

A desintoxicação deve se estender até esse período, em geral, entre quinze e trinta dias, podendo se alongar um pouco mais, nos casos de maior gravidade.  O modelo habitual se dá em enfermarias psiquiátricas, dentro da perspectiva multidisciplinar, voltada à construção de um diagnóstico que elucide a gravidade da dependência, as doenças clínicas-gerais e psiquiátricas associadas (comorbidades), os fatores de crise relacionados ao quadro atual, a motivação da pessoa para o tratamento e os fatores de proteção e risco vigentes, com ênfase na família e nas habilidades do indivíduo.  A desintoxicação também pode se dar ambulatorialmente, eventualmente com apoio de visitas domiciliares, residências terapêuticas, hospitais-dia e acompanhantes terapêuticos.

A fase de “formação do chão de terra” marca o retorno de um funcionamento mais articulado do psiquismo.  Mais uma vez, a pessoa voltou a ter uma “camada seca” estruturada, pré-frontal, capaz de oferecer uma interface entre o seu sistema nervoso “mais profundo” – mamífero e reptiliano – e as demandas socioculturais que o cercam.  É o momento em que o usuário que “só falava de droga”, aparentemente de maneira súbita, começa a ampliar o seu repertório social, a ter outros anseios, retomar assuntos antigos.  Com a chegada das “chuvas neuroquímicas fisiológicas”, juntamente com as novas conexões sinápticas, que brotam timidamente, novos padrões de comportamento começam a ser moldados, na forma de desejos e formulação de planos futuros, especialmente quando acontecem dentro de ambientes relacionados à cultura de recuperação.

Mas a estrutura cerebral desenvolvida até aqui ainda carece de capacidade inibitória, ou seja, está longe de resistir às investidas torrenciais e fissurentas do desejo de consumo.  Nesse contexto, qualquer retorno de chuvas psicoativas – sejam elas garoas ou tempestades – é potencialmente desastroso:  a estruturação cortical está começando a arriscar os seus primeiros brotos voltados para a ideia da recuperação e da mudança de estilo de vida. O sistema nervoso ainda se encontra “túrgido” de gatilhos que facilmente o levariam de volta ao consumo, não fossem as curvas-de-nível, as telas e coberturas e demais estratégias de blindagem e monitoramento – muitas vezes intensivo –, com o intuito de proteger o solo, enquanto ele próprio não vai criando sua camada de proteção.

A estruturação da serrapilheira, após ciclos sucessivos de objetivos e metas ora frustrados, ora aprendidos, ora atingidos – sempre substrato de amadurecimento –, marca a reconquista da autonomia, a partir da estruturação de um sistema de filtros que retira dos erros e acertos, bem  como das conquistas provenientes da abstinência, o substrato energético que fortalecerá o patrimônio mental da pessoa – e do seu processo de recuperação.


* Marcelo Ribeiro, psiquiatra, membro do Programa de Pós-graduação do Departamento de Psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), docente do Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove), diretor do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas de São Paulo (Coned).




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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A ABRASCO SE MANIFESTA EM DEFESA DO SUS


Nota em defesa da atenção primária e do direito universal à saúde: pela revogação da Portaria nº 2979/19 do Ministério da Saúde




Historicamente, no processo de construção do Sistema Único de Saúde – SUS, seu desenvolvimento institucional sempre envolveu a participação das diversas instâncias do controle social, além daquelas previstas legalmente, como as conferências e conselhos de saúde.

Nesse sentido, o Conselho Nacional de Saúde – CNS sempre gozou de natural protagonismo, por ser a instância máxima de deliberação das decisões pactuadas na Comissão Intergestora Tripartite – CIT, como dispõe a Constituição Federal, a Lei 8080/90, a Lei 8142/90 e a Lei Complementar 141/2012.

Não foi por outro motivo que o movimento da reforma sanitária brasileira já expressou sua indignação com o modo pelo qual o novo modelo de financiamento da atenção primária foi pactuado na CIT, sem interlocução com o CNS e a própria comunidade científica, especialmente quando impôs novos critérios de rateio dos recursos destinados aos municípios, chancelados pelo Banco Mundial (continua).


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quinta-feira, 21 de novembro de 2019




FLAGRANTE


PEQUENO PACIENTE USA A BIBLIOTECA DO SAGUÃO ENQUANTO AGUARDA ATENDIMENTO






Victor Zanon, de 4 anos, aluno da UMEI-Pompeia, é o nome do garoto. 

É bom lembrar que essa biblioteca é composta de livros usados doados pela comunidade. 


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INFORME SOBRE A REUNIÃO DE ONTEM



A reunião transcorreu dentro da normalidade, destacando-se estes assuntos dentre outros:

1 – Empenho dos delegados junto à Comissão Distrital Leste para reforma do prédio do Centro de Saúde Pompeia (CSP) e suprimento de vários insumos odontológicos básicos. Vale lembrar que o atual prédio do CSP foi inaugurado há 12 anos.

2 – Destacada a carência de mães doadoras de leite materno (o Centro de Saúde Pompeia é uma unidade coletora de leite materno).

3 – Os diversos setores do Centro de Saúde Pompeia já estão funcionando com o novo horário de acordo com o Programa Saúde na Hora.

4 – A impressora a laser do CSP está necessitando urgentemente de uma nova unidade de imagem.



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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CONVITE


PENÚLTIMA REUNIÃO ORDINÁRIA DE 2019



Será realizada no próximo dia 20, quarta-feira, a penúltima reunião ordinária deste ano, tendo como pauta:


1 – Leitura e aprovação da ata da última reunião.

2 – Informes do Distrito Leste a cargo dos delegados que representam esta CLS.

3 – Revisão das atividades oferecidas pelo Centro de Saúde Pompeia e as respectivas alterações introduzidas após a mudança de estruturas da PMBH.

4 – Leitura dos bilhetes recebidos na caixa de sugestões / reclamações / elogios.

5 – Palavra livre.




CONTAMOS COM A SUA PRESENÇA.  ELA É MUITO IMPORTANTE!



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domingo, 17 de novembro de 2019

NOTÍCIA VEICULADA PELO “JORNAL DO BRASIL”


ALTERAÇÕES NO MODELO DE FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE


Representantes do Ministério da Saúde, estados e municípios aprovaram  mudanças no modelo de financiamento da atenção primária à saúde, área que abrange o atendimento pelas equipes de saúde da família e em unidades básicas de saúde.



A proposta, conforme a Folha de S.Paulo noticiou em julho, prevê que o repasse de recursos do governo federal leve em conta o número de pacientes cadastrados nas unidades de saúde e o desempenho delas a partir de indicadores como qualidade do pré-natal e controle de diabetes, hipertensão, infecções sexualmente transmissíveis.

A vulnerabilidade socioeconômica dos pacientes (como o total de pacientes que recebem benefícios como o Bolsa Família), a presença maior de crianças e idosos na região e a distância dos municípios dos grandes centros urbanos também serão ponderados nesse novo modelo.

A ideia é que, com base nesses critérios, sejam aplicados pesos extras ao valor repassado por paciente. Um município rural ou remoto, assim, deve receber duas vezes mais por paciente cadastrado do que um município em área urbana.

Já aqueles que têm pacientes em situação de vulnerabilidade socioeconômica receberão 30% a mais nestes casos.

O novo modelo passa a valer a partir do próximo ano, com regras de transição. Nos primeiros meses, o valor deve ser repassado de acordo com a população. Em seguida, pelo volume de pacientes cadastrados.

Já os indicadores de desempenho devem ser ampliados a cada ano, até atingir 21 em 2022.

O secretário de atenção primária em saúde, Erno Harzheim, afirma que a proposta foi elaborada em conjunto com estados e municípios.

Segundo ele, a previsão é que a medida aumente o volume de recursos de atenção básica repassado à maioria das cidades. O total de aumento previsto é de R$ 2,6 bilhões. O valor virá de recursos hoje disponíveis, mas não utilizados.

Outros municípios, porém, podem ter o volume de recursos reduzido. A perda é estimada no valor de R$ 290 milhões. Para compensar a perda, o ministério diz que, em 2020, esses municípios ainda receberão de acordo com o modelo anterior.

A mudança tem sido alvo de polêmica. Um grupo de nove entidades na saúde enviou uma carta nesta quarta-feira (30) ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em que alerta sobre riscos da proposta.

O texto é assinado pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e Abres (Associação Brasileira de Economia da Saúde), entre outras entidades. O grupo reclama da falta de apresentação de uma proposta prévia pelo Ministério da Saúde a conselhos sociais.

"Sendo a atenção primária em saúde a matriz central do SUS, qualquer alteração no seu financiamento, em especial quando pode ameaçar sua sustentabilidade, causa preocupação e deve ter ampla discussão social", informa o documento.

O grupo diz ainda que a proposta fere o princípio da universalização do SUS ao centrar o modelo de repasses apenas pelo número de pacientes cadastrados, e não pelo total da população que pode ser atendida.

Também diz ver risco de prejuízo a alguns municípios, além de interferências políticas caso não houver critérios claros para avaliação dos indicadores que determinarão os repasses.

"Em tese, a nova política de financiamento da atenção primária será executada em 2020, ano de eleições municipais. De modo que, se o critério de repasse dos recursos aos gestores da saúde não for objetivo, transparente e impessoal, poderá haver riscos de cooptação política", informa.

"É o desmonte da concepção de acesso universal do SUS", diz Francisco Funcia, especialista na área de economia da saúde, para quem o envio de recursos apenas por pacientes cadastrados fere a Constituição.

Já o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, diz que a medida corrige distorções e deverá medir a real cobertura na atenção básica.

"Você não pode ter 43 mil equipes de saúde da família e só ter 90 milhões de pessoas cadastradas", disse. Para ele, a medida deverá estimular as unidades a cadastrarem os pacientes.

Hoje, o repasse de recursos é feito por meio de dois pisos de atenção básica, um fixo e um variável. O primeiro é um valor (de R$ 23 a R$ 28 por ano) que oscila de acordo com a população do município estimada pelo IBGE.

Já o segundo leva em conta o número de equipes de saúde da família que o município tem, e repassa a cada uma entre R$ 7.100 e R$ 10.600, valor que varia conforme o tipo de equipe.

Nenhum dos dois pisos leva em conta cadastro de pacientes, situação econômica e desempenho -daí a proposta de mudanças, informa a pasta.

A proposta tem o apoio do Conasems, conselho que representa secretários municipais de saúde, para quem a medida prevê repasse maior a locais com maior necessidade.

"Não estamos mudando a política, mas uma portaria de financiamento", diz Mauro Junqueira, que é secretário-executivo do órgão. Segundo ele, a proposta deve ser reavaliada a cada quatro meses.

Para Mandetta, a mudança deve fazer com que unidades de saúde, ao receberem maior remuneração por indicadores de doenças, busquem melhoria no desempenho por meio do que chama de "competição saudável".

Após a atenção básica, a pasta deverá fazer ajustes também no modelo de atenção especializada no próximo ano, afirma. (Natalia Cancian / FolhaPress SNG).




NOSSO COMENTÁRIO:

Não é boato... Infelizmente o financiamento será por usuários cadastrados. Muitas pessoas não aceitam ser cadastradas, mas buscam medicamentos no SUS, usam a sala de vacina do Centro de Saúde, recebem agentes que fiscalizam a dengue em seus domicílios, usam a vigilância em restaurantes, mas não aceitam ser cadastradas...


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quarta-feira, 13 de novembro de 2019

CURIOSIDADE


DOENÇA RARA: SÍNDROME DA

 FERMENTAÇÃO INTESTINAL


Doença em que uma pessoa pode ficar bêbada só de comer uma pizza, sem tomar bebida alcoólica!




A síndrome da fermentação intestinal é uma condição médica raramente diagnosticada em que os carboidratos ingeridos são convertidos em álcool por fungos no trato gastrointestinal.

Pacientes com essa condição ficam embriagados e sofrem todas as implicações médicas e sociais do alcoolismo, incluindo prisão por dirigir embriagado.

Sabe-se que os fungos não estão presentes no estômago e no intestino delgado superior de indivíduos saudáveis. O cólon, no entanto, pode abrigar alguns fungos.




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terça-feira, 12 de novembro de 2019


MATRIX RELAPSED
Relapse [inglês] = recaída


Marcelo Ribeiro*



“No campo pragmático da recuperação, o usuário de substâncias psicoativas muitas vezes chega para consultas queixando-se de piora, dizendo-se absolutamente tomado pelo tédio e pela tristeza, subjugado e oprimido por regras que não fazem o menor sentido”.



A ontológica trilogia Matrix [Lilly & Lana Wachowski, 1999-2003], conta a epopeia do herói cibernético Neo, que descobre, com a ajuda Morpheus e sua trupe, que toda a humanidade – inclusive ele próprio – se encontrava, na realidade, adormecida e aprisionada dentro de “cápsulas amnióticas”, por meio das quais conectores e fios elétricos extraiam dos seres humanos toda a sua bioenergia.

Durante o zênite da revolução tecnológica, máquinas dotadas de inteligência artificial travaram um conflito mortal contra os humanos, vencido por elas no final. Como consequência, os vencidos foram colocados em um sono profundo, enquanto sua mente era conectada a uma espécie de simulador de realidade virtual interativa, chamada Matrix, por influência do qual imaginavam estar acordados, em atividade, levando suas vidas humanas de sempre.

Na realidade, porém, o mundo natural e a civilização como concebidos pela humanidade, haviam se transformado em destroços e ruínas, recobertos por uma sombra inóspita e hostil, que impedia para sempre a incidência da luz solar. Suas maravilhas de outrora viviam apenas na realidade artificial da Matrix, construída pelas máquinas sorvedoras de bioenergia, apenas para ludibriar os humanos.

Neo, Morpheus e seus amigos, livres das amarras do alheamento inebriante da Matrix, começam procurar meios de reconstruir a civilização humana partindo de fundamentos reais e concretos.  Os poucos humanos que conseguiram se libertar criaram a resistência, que se concentrava numa cidade subterrânea onde os humanos nasciam livres, chamada Zion. Frequentemente, porém, sofriam perigosos reveses e ataques, como a traição de um de seus membros, Cypher, que vendeu sua “alma cibernética” ao “sistema”,  decidindo entregar os amigos às máquinas e retornar ao seu casulo opressor, desde que, ao ser reconectado à Matrix, passasse a ser alguém “rico”, “alguém importante”, “um artista” – “a ignorância é uma benção”, conclui.

Pensando a recuperação como essa nova disposição da consciência (“Neo”, é o prefixo grego para “novo”), que retira o usuário do sonho inebriante da dependência (Morfeu era o deus do sonho, na mitologia grego-romana), um longo percurso subterrâneo, guiado pela ideia da recuperação se abriu perante os heróis da trilogia, cujo objetivo revolucionário consistia não apenas em construir um novo mundo (Zion ou Sião, se refere à Terra Prometida bíblica), partindo de bases sólidas e duradouras – ainda que de início protegidas contra os ataques certeiros do inimigo, nos subterrâneos da psique –, como também desconfigurar para sempre aquele alheamento criado justamente para enfraquecer os propósitos da consciência acerca da recuperação – como um vírus da “cultura de consumo”: a Matrix.

Nesse sentido, a “Matrix Relapsed”, cuja capacidade de arregimentar soldados revolucionários menos motivados – como Cypher, um apelido para Lúcifer – quase colocou em xeque um projeto de enfrentamento e de autoconhecimento extremamente complexo e pacientemente planejado, o qual, tendo sido executado no espírito das regras e com trabalho em equipe, permitiu ao herói desvendar os mistérios mais recônditos da recuperação, para, finalmente, sair da postura defensiva para a de enfrentamento assertivo. 
continua 
           ↙

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

MAIS TEMPO PARA ATENDIMENTO À POPULAÇÃO



PROGRAMA SAÚDE NA HORA


Lançado em maio, o Programa Saúde na Hora já conta com a participação de 1.387 Unidades de Saúde da Família (USF) que se comprometeram a estender o horário de atendimento à população em 220 municípios de 24 estados e DF.


A partir do dia 11, próxima segunda-feira, o Centro de Saúde Pompeia terá o horário de atendimento estendido e passará a funcionar durante 12h diárias, incluindo os setores de imunização e farmácia. A proposta é ampliar o acesso da população aos serviços da Atenção Primária, como consultas médicas e odontológicas, coleta de exames laboratoriais, aplicação de vacinas e pré-natal.

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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

LANÇAMENTO DA ABRASCO - LIVROS



"A luta pelo direito à saúde e pela consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro tem se expressado a partir da articulação de trabalhadores dos campos da saúde, pesquisadores e militantes dos movimentos sociais nas duas últimas décadas".










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sábado, 2 de novembro de 2019

PARA RELAXAR - Vamos falar de câncer de pele



--- Pode-se relaxar falando

 sobre câncer de 

pele? (leia até o final).



O CÂNCER DE PELE


Não havia mais qualquer dúvida. Aquela protuberância acastanhada, irregular nas bordas, era muito suspeita. Sua presença, notada no dia anterior, incomodava.
O folheto que alertava sobre os perigos da exposição intensa à radiação ultravioleta, no verão, recomendava: "Examine sua pele regularmente e reconheça os sinais precoces de tumor. Ele pode surgir em forma de uma pinta preta ou acastanhada, que muda de cor e textura, tornando-se irregular nas bordas e que cresce de tamanho".
Lá estava ela - grudada na barriga. Não doía, mas tinha um aspecto estranho. Tomara certos cuidados para não machucá-la. Já ouvira dizer que os caroços, pintas e espinhas desse tipo não podiam sangrar e, inconscientemente, mudou a postura: encolheu a barriga - o que lhe conferiu um ar engraçado no modo de andar.   Houve até quem chegara a brincar:
- Ei, você engoliu uma vassoura? - Mas ele não achara graça. Afinal, quem está com carcinoma basocelular, ou melanoma - seria carcinoma espinocelular? - não encontra motivos para rir.              
A ansiedade não o deixou dormir naquela noite. Teve medo de rolar na cama e ferir a saliência. Não podia perder tempo. Marcara consulta com um dermatologista para o dia seguinte. Preocupava-o a possibilidade de ter que submeter-se a longas sessões de radioterapia. Quimioterapia... Aterrorizava-o a ideia de perder os cabelos...  Foi um alívio o clarear do dia.      
A expectativa na sala de espera do consultório durou pouco. Era o primeiro paciente. Cabisbaixo, já certo de que estava com os dias contados, em poucas palavras explicou ao médico o motivo da consulta. Este pediu-lhe para tirar a camisa e deitar-se. Após examinar a pequena saliência com uma lupa, o médico fez uma careta e sentenciou:
- É um ixodídeo do gênero Amblyomma Koch: um enorme carrapato!   


---- Do livro Plínia trunciflora e outras crônicas (MIQUELÃO, João Bosco. Niterói: Ed. Alternativa, 2016  - ISBN 978-85-63749-57-4).    


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    Por questão de foro íntimo, estamos encerrando nesta data as atividades deste blog .