--- Pode-se relaxar falando
sobre
câncer de
pele? (leia até o final).
O
CÂNCER DE PELE
Não havia mais qualquer dúvida. Aquela protuberância acastanhada,
irregular nas bordas, era muito suspeita. Sua presença, notada no dia anterior,
incomodava.
O folheto que alertava sobre os perigos da exposição intensa à
radiação ultravioleta, no verão, recomendava: "Examine sua pele
regularmente e reconheça os sinais precoces de tumor. Ele pode surgir em forma
de uma pinta preta ou acastanhada, que muda de cor e textura, tornando-se
irregular nas bordas e que cresce de tamanho".
Lá estava ela - grudada na barriga. Não doía, mas tinha um aspecto
estranho. Tomara certos cuidados para não machucá-la. Já ouvira dizer que os
caroços, pintas e espinhas desse tipo não podiam sangrar e, inconscientemente,
mudou a postura: encolheu a barriga - o que lhe conferiu um ar engraçado no
modo de andar. Houve até quem chegara a
brincar:
- Ei, você engoliu uma vassoura? - Mas ele não achara graça. Afinal,
quem está com carcinoma basocelular, ou melanoma - seria carcinoma
espinocelular? - não encontra motivos para rir.
A ansiedade não o deixou dormir naquela noite. Teve medo de rolar na
cama e ferir a saliência. Não podia perder tempo. Marcara consulta com um
dermatologista para o dia seguinte. Preocupava-o a possibilidade de ter que
submeter-se a longas sessões de radioterapia. Quimioterapia... Aterrorizava-o a
ideia de perder os cabelos... Foi um
alívio o clarear do dia.
A expectativa na sala de espera do consultório durou pouco. Era o
primeiro paciente. Cabisbaixo, já certo de que estava com os dias contados, em
poucas palavras explicou ao médico o motivo da consulta. Este pediu-lhe para
tirar a camisa e deitar-se. Após examinar a pequena saliência com uma lupa, o
médico fez uma careta e sentenciou:
- É um ixodídeo do gênero Amblyomma Koch: um enorme carrapato!
---- Do livro Plínia trunciflora e outras crônicas (MIQUELÃO, João Bosco. Niterói:
Ed. Alternativa, 2016 - ISBN
978-85-63749-57-4).
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