ANOREXIA
O diagnóstico é feito
pela perda de peso (peso menor do que 85% do esperado para a idade e altura) e
pela presença de distúrbios menstruais. A recusa em se alimentar, o medo de
ganhar peso e a autoimagem distorcida completam o diagnóstico.
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De 1999 a 2003, são 141 os casos de
óbito notificados (média de uma morte a cada 13 dias). A causa da anorexia
nervosa é desconhecida, mas envolve uma combinação de fatores de risco
psicológicos, biológicos, genéticos e culturais, possivelmente associados ao
abuso físico na infância e evento estressante na vida.
O elenco de sintomas atinge órgãos
dos sistemas cardiovascular, reprodutivo, gastrointestinal e endócrino.
Aparecem alterações metabólicas e fisiológicas incluindo anormalidades em
neurotransmissores. O diagnóstico é feito pela perda de peso (peso menor do que
85% do esperado para a idade e altura) e pela presença de distúrbios
menstruais. A recusa em se alimentar, o medo de ganhar peso e a auto-imagem distorcida
completam o diagnóstico. Indivíduos que perseguem alvos onde a magreza é uma
demanda (bailarinas, modelos) têm risco maior.
De cada quatro casos, em um ou dois a
recuperação pode ser completa ou com poucas seqüelas físicas ou psicológicas.
Entre as doenças psiquiátricas, a anorexia nervosa é uma das que apresenta
mortalidade de longo prazo mais elevada. Cerca de 5% dos pacientes acompanhados
por um período de dez anos morrem, por complicações físicas ou por suicídio. O
tratamento envolve assistência psiquiátrica com foco no suporte emocional, no
aumento da auto-estima, e no estímulo ao desenvolvimento de atividades de
trabalho e lazer compensatórias.
Cabe a pergunta: a sociedade está
fazendo tudo que pode para prevenir e tratar essa grave patologia? Ou, ao
contrário, a está favorecendo? Será que apenas um novo “Código de
Regulamentação” do setor de moda dará conta da magnitude do problema? Ou mais
uma vez estaremos sendo subjugados pelas ações de marketing para tudo
permanecer como está?
Recentemente, a Organização Mundial
de Saúde e a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes apontaram o
Brasil como o maior consumidor mundial de inibidores de apetite, os
anorexígenos anfetamínicos. Para se ter uma idéia da dimensão do problema,
entre 1999 e 2004, o Brasil teve um aumento de 254% no consumo destes
medicamentos. Diariamente são utilizadas 9,1 doses por grupo de mil habitantes.
No segundo lugar do “ranking” estão os Estados Unidos, com 7,7 doses diárias
por mil habitantes.
Os anorexígenos do grupo das
anfetaminas podem causar efeitos adversos, como dependência química, insônia,
irritabilidade, taquicardia, hipertensão arterial, depressão, ansiedade e
pânico. Vários deles são estranhamente coincidentes com o quadro clínico das
jovens com anorexia e bulimia que morreram nos últimos meses no Brasil. Deve-se
pensar que algumas delas, além de uma dieta de fome, também fizeram uso de
inibidores de apetite, os quais podem ter contribuído ou causado o óbito.
É importante, portanto, que se
proceda a uma investigação epidemiológica, e a uma análise conjunta dos casos.
As informações sobre aspectos biológicos, sociais e comportamentais poderão ser
obtidas junto aos familiares e aos médicos. Uma boa anamnese farmacológica
permitirá saber quais os medicamentos usados, e ajudará a elucidar a causa
imediata do óbito, a parada cardíaca, e a natureza da lesão que levou ao
trágico desfecho.
Tais medidas não prescindem de uma
ação enérgica junto à mídia, pois é evidente que o estímulo à sexualidade
precoce, a escassez de opções de trabalho gratificantes, e a imposição de
padrões estéticos que violentam uma saudável diversidade, estimulam o comportamento
enviesado de parcela da juventude que supervaloriza a aparência e vê no mundo
fashion a única opção de vida.
Frente à gravidade da situação, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária está propondo medidas sanitárias mais
rígidas de controle da prescrição e venda dos inibidores de apetite.
Entretanto, o problema do consumo abusivo de medicamentos controlados é
agravado pela venda irregular, sem receituário, em algumas farmácias e
drogarias; pela prescrição e aviamento de fórmulas emagrecedoras manipuladas e
pela entrada de medicamentos contrabandeados no País.
Caberia novamente nos perguntarmos:
será que apenas elaborar maiores restrições à venda destes produtos resolve a
questão? O que mais podemos fazer? Não é o momento de - além de nos debruçarmos
sobre resoluções sanitárias - olharmos de frente para a sociedade que estamos
construindo, doente de valores e oportunidades, e que produz mais doenças e até
mortes que se explicam tecnicamente mas são totalmente injustificáveis?
Contato com este blog: conslocsaudepompeia@gmail.com.
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