MAIS DO QUE PODEMOS VER
Drª. Meira Souza*
Acho que não
fui a primeira e com certeza não serei a última a questionar a existência
humana, aonde chegamos, como chegamos e para onde vamos.
Apresentamos
uma dificuldade histórica em coexistir com outras espécies e diversas vezes nos
falta empatia até mesmo com nossos iguais.
Para quem
acompanha as crônicas há mais tempo, fica claro que minha clínica e meu
consultório é um lugar muito abençoado e que me traz infinitas reflexões.
Durante uma
consulta on-line entrei em contato com um paciente que optou por não se vacinar
e disse com confiança que tem estudado muito sobre vacinas e que, com certeza,
está sabendo mais que os médicos, porque ele está em casa e está aproveitando o
tempo para se informar.
Afirmou
também que as vacinas não eram necessárias e que se todos se comprometessem com
o afastamento social isso já seria suficiente.
Não poderia
dizer que ele estava completamente incorreto, caso todos se mantivessem em casa
pelo tempo necessário, no entanto este é um pensamento completamente dissociado
da realidade.
Este
paciente disse que estava trabalhando em regime de home office desde o início
do isolamento social, juntamente com sua esposa e filha.
Apesar de
estar incomodada com a clara dificuldade deste paciente em compreender o quão
impossível é conciliar nossa existência com o completo isolamento, mas decidi
apenas escutá-lo por um momento antes de respondê-lo.
Disse a ele
que estava muito contente pela situação na qual ele se encontrava, mas que não
entendia algumas coisas:
— Você cavou
um poço e está obtendo sua própria água?
— Fiquei curiosa sobre como está produzindo energia elétrica, afinal sua filha está trabalhando em casa, nós estamos conversando pelo computador, então precisa de energia ou não?
— Você já
tinha uma horta e consegue produzir seu alimento, ou começou plantar quando
começou a pandemia. Tem conseguido se prover de alimentos diversos ou tem feito
alguma restrição alimentar.
— Qual o
destino tem dado para o seu lixo?
Enquanto eu
interrogava o paciente, sua expressão de convicção foi se alterando e ele
começou me olhar de um jeito quase raivoso.
Por fim,
expressou:
— É Dra.
Meira, você é muito esperta....
Diante da
delicadeza do tema, continuei escolhendo com muito cuidado as palavras.
— É isso
amigo, enquanto você se isola, alguém está cuidando da sua água.
Te provendo
de energia elétrica, recolhendo o lixo da sua rua, produzindo o alimento que
você encomenda pelo telefone. Cuidando da sua internet.
Eu penso que
você não está isolado. Não conheço ninguém que consigo viver realmente isolado.
O que está
ocorrendo é que você está ignorando toda uma rede de pessoas que estão se
expondo, arriscando e trabalhando para que você, que inclusive não precisa
trabalhar presencialmente, fique em segurança no conforto do seu lar, esperando
a pandemia passar.
As pessoas
que precisam trabalhar fora de uma situação de isolamento precisam da vacina
para se protegerem.
A vacina
funciona e é necessária para a preservação de nossa existência.
Ter empatia
é ver além de suas necessidades, ter empatia é cuidar da existência daqueles
que nem sempre podemos ver, mas que também realizam um papel imprescindível
para a preservação do coletivo.
Tenham
empatia, vacinem-se!
*Responsável pela clínica de dor do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia. É autora dos livros: “Obesidade: vire essa página da sua vida
com qualidade de vida”, “O Reino encantando dos alimentos”, “Viva bem com a
coluna que tem”. É também palestrante sobre os temas que atua. É responsável
pela coluna Construindo saúde na TV BH News, no programa Revista BH News, que
explora temas ligados à saúde apresentando dicas e fatos cotidianos que possam
ajudar na construção da saúde dos telespectadores. Esta crônica foi publicada
no jornal “O Tempo”. O próximo livro da
autora "Emagre-Ser" está sendo editado pela editora Autêntica.
Contato com
este blog: conslocsaudepompeia@gmail.com.
Uma bela reflexão - comentário de Rosilene Conceição Rocha Martins, professora da PUC-Minas
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