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domingo, 13 de fevereiro de 2022

CRÔNICA DE HOJE

 MAIS DO QUE PODEMOS VER

Drª. Meira Souza*

Acho que não fui a primeira e com certeza não serei a última a questionar a existência humana, aonde chegamos, como chegamos e para onde vamos.

Apresentamos uma dificuldade histórica em coexistir com outras espécies e diversas vezes nos falta empatia até mesmo com nossos iguais.

Para quem acompanha as crônicas há mais tempo, fica claro que minha clínica e meu consultório é um lugar muito abençoado e que me traz infinitas reflexões.

Durante uma consulta on-line entrei em contato com um paciente que optou por não se vacinar e disse com confiança que tem estudado muito sobre vacinas e que, com certeza, está sabendo mais que os médicos, porque ele está em casa e está aproveitando o tempo para se informar.

Afirmou também que as vacinas não eram necessárias e que se todos se comprometessem com o afastamento social isso já seria suficiente.

Não poderia dizer que ele estava completamente incorreto, caso todos se mantivessem em casa pelo tempo necessário, no entanto este é um pensamento completamente dissociado da realidade.

Este paciente disse que estava trabalhando em regime de home office desde o início do isolamento social, juntamente com sua esposa e filha.

Apesar de estar incomodada com a clara dificuldade deste paciente em compreender o quão impossível é conciliar nossa existência com o completo isolamento, mas decidi apenas escutá-lo por um momento antes de respondê-lo.

Disse a ele que estava muito contente pela situação na qual ele se encontrava, mas que não entendia algumas coisas:

— Você cavou um poço e está obtendo sua própria água?

 — Fiquei curiosa sobre como está produzindo energia elétrica, afinal sua filha está trabalhando em casa, nós estamos conversando pelo computador, então precisa de energia ou não?

— Você já tinha uma horta e consegue produzir seu alimento, ou começou plantar quando começou a pandemia. Tem conseguido se prover de alimentos diversos ou tem feito alguma restrição alimentar.

— Qual o destino tem dado para o seu lixo?

Enquanto eu interrogava o paciente, sua expressão de convicção foi se alterando e ele começou me olhar de um jeito quase raivoso.

Por fim, expressou:

— É Dra. Meira, você é muito esperta....

Diante da delicadeza do tema, continuei escolhendo com muito cuidado as palavras.

— É isso amigo, enquanto você se isola, alguém está cuidando da sua água.

Te provendo de energia elétrica, recolhendo o lixo da sua rua, produzindo o alimento que você encomenda pelo telefone. Cuidando da sua internet.

Eu penso que você não está isolado. Não conheço ninguém que consigo viver realmente isolado.

O que está ocorrendo é que você está ignorando toda uma rede de pessoas que estão se expondo, arriscando e trabalhando para que você, que inclusive não precisa trabalhar presencialmente, fique em segurança no conforto do seu lar, esperando a pandemia passar.

As pessoas que precisam trabalhar fora de uma situação de isolamento precisam da vacina para se protegerem.

A vacina funciona e é necessária para a preservação de nossa existência.

Ter empatia é ver além de suas necessidades, ter empatia é cuidar da existência daqueles que nem sempre podemos ver, mas que também realizam um papel imprescindível para a preservação do coletivo.

Tenham empatia, vacinem-se!

*Responsável pela clínica de dor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia. É autora dos livros: “Obesidade: vire essa página da sua vida com qualidade de vida”, “O Reino encantando dos alimentos”, “Viva bem com a coluna que tem”. É também palestrante sobre os temas que atua. É responsável pela coluna Construindo saúde na TV BH News, no programa Revista BH News, que explora temas ligados à saúde apresentando dicas e fatos cotidianos que possam ajudar na construção da saúde dos telespectadores. Esta crônica foi publicada no jornal “O Tempo”.  O próximo livro da autora "Emagre-Ser" está sendo editado pela editora Autêntica.

 

Contato com este blog: conslocsaudepompeia@gmail.com.

 

Um comentário:

  1. Uma bela reflexão - comentário de Rosilene Conceição Rocha Martins, professora da PUC-Minas

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