Quem ganha com o seu medo?
Drª.
Meira Souza*
É natural termos medo do desconhecido, medo de tudo
para o qual não podemos nos preparar.
Desde pequenos, aprendemos observando o
comportamento alheio, e também deste modo aprendemos o que temer e o que
encarar.
Um grande médico japonês, conhecido por curar
pessoas com câncer na quarta fase afirma que existe apenas um paciente que ele
não pode curar, aquele que teme mortalmente o câncer, que assim que descobre a
doença já se vê sem esperanças e se preocupa mais em aceitar a morte do que em
buscar a cura.
O medo afeta diretamente nosso sistema imunológico,
nos deixando propensos a contrair qualquer doença com mais facilidade e também
dificulta o processo de retorno à saúde.
É obvio que não existe maneira de receber o
diagnóstico de tumor maligno sem se abalar, isso se deve também ao fato de que
é comercialmente favorável expor e manter o câncer com “fama” de incurável.
Desta maneira paciente que receber o diagnóstico
fará de tudo, pagará qualquer valor e se submeterá a qualquer procedimento para
salvar a própria vida.
Chegar no ponto do câncer é muitas vezes, sim, ter
que se submeter a procedimentos mais invasivos, mas mesmo durante esse momento
é necessário respeitar e empoderar o paciente para que ele acredite que pode
melhorar.
O diagnóstico
do câncer pode ser muito lucrativo para a indústria da medicina, diversas vezes
recebi pacientes em pontos inflamatórios absolutamente alarmantes, condição que
já sabemos, pode evoluir para um câncer, mas não receberam nenhum aviso do
profissional que havia solicitado o exame para que mudasse de conduta para
evitar uma evolução desfavorável. Não é conveniente ficarmos tranquilos em
nossas sua cadeiras, somente repetindo exames de controle, esperando o momento
de poder dar uma informação oficial de um diagnóstico irreversível e somente
então iniciar um tratamento.
Muito pode ser feito antes.
Assim como quase todas as doenças, o câncer tem um
caminho, não é uma condição inevitável. Por isso digo e repito quantas vezes
forem necessárias: é importante ter cuidado com a saúde primária, com a saúde
que se adquire no dia a dia.
Procedimentos invasivos são caros e trazem um certo
glamour para o médico que o executa, mas podem vulnerabilizar o paciente e
devem ser preservados apenas para momentos onde existe uma inevitabilidade de
outras opções.
O paciente curado irá continuar a vida e não é justo
que tenha que sofrer ao longo de toda sua jornada por um procedimento que
poderia ter sido evitado.
Quanto mais o medo e os perigos são valorizados,
frente a toda uma vida e história, mais dispostas a se machucar e mais frágeis
para se curar estarão as pessoas.
Perigo e medo são coisas diferentes, o perigo é
real, mas o medo só servirá para deixar a jornada mais estressante do que já é.
Desglamourizar a medicina, colocar os pés no chão e
entender que alicerces de um bom estilo de vida são essenciais a todos que
querem viver bem é um dos pilares principais de construirmos uma sociedade mais
justa com cada indivíduo. E um grande estímulo para o médico que deseja
investir na saúde integral e em uma sociedade mais sustentável.
*A Dra. Meira Souza é responsável pela clínica de dor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia. É autora dos livros: “Obesidade: vire essa página da sua vida com qualidade de vida”, “O Reino encantando dos alimentos”, “Viva bem com a coluna que tem”. É também palestrante sobre os temas que atua. É responsável pela coluna Construindo saúde na TV BH News, no programa Revista BH News, que explora temas ligados à saúde apresentando dicas e fatos cotidianos que possam ajudar na construção da saúde dos telespectadores. Esta crônica foi publicada no jornal “O Tempo” e é uma das introdutórias ao próximo livro da autora "Emagre-Ser", que está sendo editado pela editora Autêntica.
Contato com este blog: conslocsaudepompeia@gmail.com.
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