Ser mulher, gestar e parir: sentidos
em transição e desafios para o setor saúde
A incorporação ao mercado formal de
trabalho e a contracepção, agendas intensificadas a partir da segunda metade do
século XX, criaram as condições para que as mulheres pudessem ter projetos
próprios e se desgarrassem da tutela masculina. Redução da dependência do
casamento ou da família de origem, decisão sobre o número desejado de filhos e
o melhor momento para tê-los mudaram opções sobre maternidade, gravidez e
parto. Entretanto, tudo isso não vem ocorrendo de forma linear. Hierarquias
sociais produzidas pela intercessão entre classe e raça/etnia influenciam
fortemente o acesso aos bens. Nesse sentido, os avanços obtidos pela redução da
pobreza no Brasil e no mundo não foram suficientes para garantir a qualidade
igualitária da atenção à gestação e ao parto.
Embora profundas desigualdades
continuem presentes, um novo discurso em relação à maternidade tornou-se
hegemônico. Não mais vige a ideia de uma contingência biológica ou de um
suposto instinto. Tornar-se mãe passou a ser escolha para a quase totalidade das
mulheres e muitas práticas relativas à parturição e ao aleitamento emergiram
como projeto pessoal e coletivo.
Os artigos apresentados nesta edição,
de diferentes formas tratam das repercussões das mudanças no modo de encarar a
maternidade e o papel social da mulher. Os autores falam principalmente sobre
direitos sexuais e reprodutivos que devem ser observados na atenção básica e em
todo o conjunto de cuidados que os servidores da saúde devem oferecer ao ato de
gestar e parir.
Os textos sobre os modelos de parto,
por exemplo, homenageiam a participação do setor saúde no processo de mudanças,
embora alguns artigos apontem também problemas em relação à qualidade do
atendimento e aos frequentes preconceitos contra parturientes e gestantes não
brancas, inclusive na Rede Cegonha. Tais discriminações refletem como
ideologias de gênero e racismo, atravessam a sociedade e penetram no trabalho
em saúde, num momento tão crucial para a geração da vida. Alguns autores
analisam outros aspectos como problemas relativos ao climatério, à menopausa, à
obesidade e à situação das mulheres encarceradas.
Em seu editorial "Ser mulher, gestar e
parir: sentidos em transição e desafios para o setor saúde" (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232018001103478&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt) Wilza Vieira Villela, do Departamento de Medicina Preventiva,
Universidade Federal de São Paulo, ressalta que, apesar das transformações
evidentes, a sociedade ainda não valoriza a maternidade como um trabalho social
feminino em favor de todos, o que urge ser feito, ao lado do reconhecimento das
mulheres como agentes de sua própria vida.
Contato com este blog: conslocsaudepompeia@gmail.com.
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